sexta-feira, dezembro 03, 2010

A dor de um pai

 Cá estou a navegar na dor de um amigo. Doído, doendo da dor alheia. Uma dor que agiganta a cada dia, em que novos amigos também vêm a navegar na terrível sensação de ver o corpo do filho estirado no chão, crivado à bala. Como um Sandrinho, o menino da Alegria (Grota da Alegria); como um doidinho, que circulava perambulando entre as praças da cidade à noite; como o Fábio ou o professor Bandeira; mais um. Números escandalosos ! E o pior: o próximo pode ser Você ou Eu. O mundo tá virado de cabeça para baixo ao pé das palavras. Valores invertidos são tudo por aqui. Não há felicidade plena no ar. Sequer temporária, as vezes, não há. Cadê a poesia que morava aqui ? Cadê o mijãosinho da Praça Sinimbu ? Quer dizer: Cadê a Praça Sinimbu !?... Empresários ? Latifundiários ? Sociedade Civil ? Igreja ? Traficantes ? Governo ? Câmara ? Assembléia ? Jurídicos afins ? Poder ? Quem ? De quem é a culpa ? Tá lá, estirado no chão o garoto. Isso virou rotina em nosso cotidiano, - E nada podemos fazer ?!... - Pelo contrário, quanto mais fizermos contra, mas nossas vidas tornam-se alvo. Terrorismo pleno, conivência absoluta. Não podemos permitir tamanha desordem.

Aos 12 anos de idade o cidadão ainda é uma criança, possa ter o tamanho que for, é uma criança. E os direitos da Criança e do Adolescente são claros quanto ao modo de tratamento. Espancado por marmanjos fardados, tratado como Zé Ninguém, ameaçado, injustiçado ?! Há um momento em que nossos filhos vão às ruas, afinal de contas os criamos para o mundo, vão aprender a viver, todos nós passamos por isso. Mas não é porque um tem interesses diferentes dos outros, o que é absolutamente natural, que deva sofrer penas severas. Segundo o documento assinado pelo Presidente Lula, nem palmada, sequer dos pais, podem levar. Não há argumentos que justifiquem a ação desse delegado de polícia e dos policiais que agrediram tal menino, o que afetou psicologicamente sua conduta. - o que já era difícil piorou. - foram quatro longos anos de um trabalho árduo de re-socialização do garoto, seus pais mediante a imposição da força, do medo de estar lidando com autoridades policiais temíveis, já consagradas pela população, sofreram calados, assistindo ao filho, além de acusá-los por nada fazerem quanto à agressão que houvera sofrido, afundar numa vida de lamúrias e hostilidades. Um menino bom, de espírito gentil, indignado, trazia consigo as marcas de tal agressão na alma.

Acredito que o que este pai pede à Sociedade Civil, é que a Justiça não continue a descartar do banco de réus acusados graduados e afins. A hipocrisia remanescente, do malcaratismo estúpido e impiedoso do mal comandando o poder, dá à História da Humanidade projeções obscuras, sentidos banais, sentimentos vulgares, atitudes canalhas. Pois um Homem que bata no filho de outro Homem deve apanhar duplamente, pelo filho e pelo pai. O que vemos é uma Justiça burguesa, gorda esbaforida, covardemente vender-se numa jogada infeliz que Deus nenhum toleraria. Condenar a pobreza é tudo que sabem fazer. Condenam seres humanos a nascerem e morrerem pobres e miseráveis, e sobre toda essa façanha sublime distorcida enriquecem uns poucos porquinhos espertos. Um nojo. Asquerosos, cheios de bossa e clamores diante seus conhecimentos retilíneo uniformes, de sujeitos alienados, mantêm seus postos de carrascos, nessa epopéia escravocrata dessa democracia globalizada. Pois esse pai tem o direito de fazer reluzir o respeito que tanto seu filho necessitou ter, tem o direito de acusar o agressor, de apontar para ele e dizer: - Você foi o grande culpado ! Agrediu meu filho e conseguiu me silenciar diante a justiça perante seu posto de delegado. Mas você é um bandido, facínora, deve cumprir o mandato das leis que punem os agressores a menores, o que quer eles tenham feito, assim diz a lei. - Lei !? Que Lei ? O Estatuto da Criança e do Adolescente. Será que os juristas alagoanos o conhecem ? Se o conhecem, porque então não punem. Será que também têm medo de tal delegado que por lá donde trabalha é tão mal afamado ? Ou será que é porque o menino era negro e pobre, de ímpeto firme, decidido, valente, bonito... Foi muita covardia ! De todo modo rogo aos Deuses que pairam sobre nossos universos: rogai por nós.

LCB_2010jan22

4 comentários:

  1. LCB,
    Parabéns pelo primoroso texto que transpira solidariedade,fraternidade e ao mesmo tempo clama por justiça !
    Uma bela lição de cidadania,
    abraços

    Mário Augusto

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  2. Valeu, Mário. Brigadão pela visita e comentário.

    Abraços.

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  3. Os comentários abaixo foram postados no blog de Lula Castello Branco em http://ojornalweb.com.br . Reproduzidos aqui.

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    LUIZ CARLOS disse:
    03/12/2010 às 8:19

    CONCORDO EM PARTE COM A MATERIA, POIS A MAIORIA DOS PAIS QUER PROTEGER SEUS FILHOS, POREM ALGUNS SE ESQUECEM DE ENSINAR OS VALORES MORAES E ESPIRITUAIS, DEIXANDO SEUS FILHOS A PRÓRPIA SORTE. SÓ PARA EXEMPLIFICAR, QUANTOS O SANDRINHO ROUBOU, MATOU OU HUMILHOU? É MEU CARO LULA CASTELO, EXISTE O OUTRO LADO. ONDE ESTÃO OS HOMEMS DE BEM PARA PODER EXIGIR OS NOSSOS DIREITOS BÁSICOS CONSTITUIDOS? PARA BOTAR NA CADEIA ESTA CORJA DA POLÍTICA, DO JUDICIÁRIO, DA IMPRENSA E TAMBEM DO SETOR PRIVADO QUE SÓ PENSAM EM ROUBAR.INFELIZMENTE O QUE VEMOS É UM MONTE DE COMEDORES DE CAPIM VENDENDO SEU VOTO PARA ALGUM CANALHA SE ELEGER. AI ESTÁ A REELEIÇÃO DE 90% DOS TATURANAS.
    SR LULA CASTELO, VAMOS PEGAR PESADO NO LUGAR CERTO. VAMOS CORTAR O MAU PELA RAIZ, CHEGA DE OBA-OBA.

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    Profª Rose Mary de Araújo Profª Rose Mary de Araújo disse:
    04/12/2010 às 7:54

    Está na hora de surgir uma ONG, distanciada dos vícios político-partidários, capaz de denunciar aos quatro cantos do mundo, a dor que nós sentimos por tanta impunidade, malcaratismo, falta de ética, sem-vergonhisse, roubo do erário, falta de saúde, educação, de punições severas para os bandidos de colarinho branco, etc. Vamos à guerra, porque à luta se faz constante. Não podemos calar diante de nossos agressores! Coragem!

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    Ana Cláudia Laurindo Ana Cláudia Laurindo disse:
    04/12/2010 às 20:01

    Como dói o silêncio dos bons! Como lamento os que conhecem o Evangelho e não o praticam! Como sei agora,muito mais que antes, o que é viver em Alagoas, na falsa cidadania que nos apregoam!Como é necessário rasgar o peito no grito que não ecoa, porque adquirimos as manias pequeno-burguesas de nos desumanizarmos, justificarmos o crime, fingir solidariedade e escolher o próprio umbigo! Meu filho, meu Amor, minha trajetória de esperança! Mártir alagoano, dos 12 aos 16, vítima da violência institucionalizada!

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  4. Os comentários abaixo foram postados no blog de Lula Castello Branco em http://ojornalweb.com.br . Reproduzidos aqui.

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    Lula castello Branco Lula castello Branco disse:
    01/01/2011 às 21:34

    Caro Luiz Carlos, quando me referi ao ‘Menino Sandrinho’ me referi a comentários que ouvi de moradores da Gruta da Alegria, que falavam com tristeza em que o ‘menino Sandrinho’ houvera se transformado. Um ancião, em um mercadinho, logo na entrada da Grota, conversando comigo traçou um risco cortando a rua gesticulando o braço, me disse: “Daqui lá pra fora, com os comparsas dele, não sei quem é essa pessoa. Mas dessa lista aqui pra dentro é um menino alegre, que nasceu aqui. Sempre me dá bom dia, boa tarde, boa noite”. Triste, silenciou. Acho mesmo que Sandrinho não encontraria outro destino, senão este. Mas eu conheço outros meninos da Grota da Alegria, hoje homens, pais de família, trabalhadores, que conviveram de uma infância feliz, ali naquela encosta barrenta. Quero dizer com esse argumento, que são as ilusões e as oportunidades da sociedade consumista as principais causas desses transtornos febris. Quero ressaltar que como na Grota da Alegria, também em palácios nascem bandidos. São vitimas da sociedade a quanto mais desvairada. Desse alcoolismo exacerbado conduzindo aos piores índices as relações sociais. Da juventude fumando soda cáustica e bicarbonato de sódio, se envenenando, misturados à Coca, pelas esquinas das cidades. Desse transito caótico por falta de investimento e comprometimento do poder público. Enfim, o mal exemplo está dentro de casa, nas ações cotidianas, na influência da televisão. O que falta, Xará, é utópico. É sonho. É Revolução.

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    Lula castello Branco Lula castello Branco disse:
    01/01/2011 às 21:58

    Claudia, companheira, tudo isso nos deixa muito assustados quando acontecesse ! Mas sabemos então que é corriqueira, que a Justiça fecha os olhos, os ouvidos, a boca e põe sobre si um manto de insensibilidade. Horrível quando o corpo cai em nossos pés, e são frutos do nosso colo. Esse ’silêncio dos bons’ está 100% em voga, pois os valores principais, que induzem a maior população, são vulgares e mesquinhos, no coroamento da canalha mor ! A conivência e a complacência, o comodismo e o conformismo, a decadência de um sistema no âmago de uma província.

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Para entrar em contato com o autor: poemidia@hotmail.com ou (82)9602.2222