quinta-feira, junho 03, 2010

Laia bêbada


A visão bêbada no instante do acidente, quando torpe o corpo vacila, viaja, e a mente anestesiada gira, e o bêbado persiste em dirigir o automóvel, tolo, diante dezenas de pessoas que o rodeiam, no seu rastro de morte, vitimados pela imprudência de tal persistência, dessa cultura social brasileira da cerveja gelada, das rodas de whisky que decidem destinos, da cachaça popular, do alcoolismo. Já não vejo a menor graça nos bêbados, em sua maioria são chatos e pegajosos, exaltados, metidos, arengueiros, estúpidos, sem caráter. São sombras de outra realidade, da realidade do bêbado quando acorda, desse outro Homem sóbrio, que com certeza não é o mesmo daqui a mais algumas horas. Bebe-se no Brasil com muita intensidade e bebe-se muito, é mesmo uma cultura de raízes, maravilhosa, porém a conseqüência desse costume pode-se chegar a estágios de relações improváveis, de discórdias absolutas, amizades destruídas, crimes, enlouquecimento, morte.

Em plena época das campanhas anti-drogas internacional, o Governo do Brasil permite que as indústrias de Cerveja anunciem o dia quase todo, de quase 15 em 15 minutos, nas televisões, nas revistas, nos outdoors, influindo a todos, velhos ou crianças, ao consumo livre, determinando que o ato de beber sempre está ligado à felicidade plena, ao convívio magnânimo de Baco, sempre mostrando o início da festa, nunca um fim da festa, porque há sempre um incidente qualquer no caminho dos usuários, as pessoas estão transtornadas e transformadas, loucas.

Para tanto a Seleção Brasileira de Futebol de 2010 está patrocinada por uma marca de cerveja, uma relação ínfima entre a bebida alcoólica e o esporte, um lindo exemplo para as novas gerações. Pior que o consumo exacerbado e o perdão absoluto do dia seguinte é a exaltação alcoólica.  Desculpem-me os que se sentem ofendidos, pois bebi desde ainda menino até bem pouco, bebi muito, adoro a bebida alcoólica, adoro um porre – inclusive tenho um apelido de “Porrinho”. – mas, desculpem-me mesmo, não consigo mais ficar perto das pessoas quando elas consomem o álcool, não consigo mesmo. Lamento. Acho que são coisas desse tal Porrinho.

As fotos que apresento aqui são fotos em movimento no trânsito, feitas dentro de um automóvel. Na câmara utilizei uma velocidade baixa do obturador, o que permitiu a criação de ‘fantasmas’ através da incidência. Tais imagens, em minha concepção e conhecimento prático dos efeitos etílicos, representam a visão de um bêbado, num estágio de embriaguês e cansaço elevados. Por isso considero essa a visão da pessoa alcoolizada na hora da perda total dos reflexos, no momento em que perde o controle da direção e provoca mais um acidente.

LCB_2009/10