O homem pega sua canoa, dois remos compridos, com sacos de nylon trançado de uns 50 litros, cheios de garrafas PET tapadas, cheias de ar, pendurados e ligados por uma corda; rema até entre 20 a 60 metros da orla, onde enfinca os remos juntos na lama do fundo das águas escuras da lagoa e amarra a canoa na ponta deles. Aí então ele mergulha. Vai lá no fundo. São mergulhos de 2 a 2,5 metros de profundidade, em média. Enfia as duas mãos, cavando um buraco, na lama e ergue a massa em direção ao seu peito, sobe rapidamente para a superfície, levanta a massa até a altura da borda da canoa e joga para dentro o volume de lama que fora possível trazer. E volta a mergulhar - dezenas de vezes - enquanto a canoa começa a afundar com o peso de tanta lama, fica flutuando graças aos sacos com garrafa PET que agem como bóias; entre vários mergulhos, apalpa agressivamente a lama, separando-a do marisco fino e comprido, em cachos; e mais esporadicamente, sobe na canoa e movimenta os pés em ‘pedaladas’ consistentes, diluindo a lama que se esvai com o movimento das águas, nesse momento o movimento de suas pernas lembra um motor, liquidificando aquela porção heterogênea, separando o sururu da lama. Isso durante 4 a 6 horas por dia, todos os dias. O pescador de sururu de Maceió e a lama da laguna Mundaú têm a benção eterna do cotidiano paralelo: como o pássaro que mergulha na caça, como o caranguejo que vive mais intensamente a lama, hora afundado, hora emergido, mergulha pra ganhar a sobrevivência.
Essas fotos foram feitas em uma Nikon FM10, um filme de iso.400, durante a produção do documentário Mirante Mercado, dirigido por Hermano Figueiredo, do qual fui Assistente de Produção.
LCB_2006sd
Essas fotos foram feitas em uma Nikon FM10, um filme de iso.400, durante a produção do documentário Mirante Mercado, dirigido por Hermano Figueiredo, do qual fui Assistente de Produção.
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