sábado, maio 15, 2010

Um Príncipe no Papódromo


Sem comentários à Santíssima Igreja Católica, no semblante do seu pontífice Papa João Paulo II, talvez o mais carismático de todos, quanto a vossa omnipresença nas terras alagoanas, especificamente num templo criado para recepcioná-lo: o Papódromo.  Um ambiente onde se poderia persistir a atmosfera plena das culturas (que fosse apenas de práticas religiosas !), então abandonado, ao desprezo público e político, em ruínas padece a aura dessa entidade representativa, da ordem decrescente do Deus, tão importante pra toda gente desse país dito 100% cristão. De tais ruínas vi surgir um pequenino gato branco, esfomeado, que titubeando partiu em minha direção como que implorando por água e comida, e carinho. Nessa foto utilizei de uma técnica que chamo de ‘ver com os olhos das mãos’. Trata-se do domínio que adquirimos, ao longo da prática cotidiana da captação, no uso contínuo da mesma câmara e lente, a partir da visão, através da sensibilidade espacial do manuseio da câmara sem a orientação direta dos olhos através dos visores a que vislumbramos quase sempre nosso quadro (fotografia), do enquadramento conseqüente ao click. Como sempre, com o tempo estourado, ao ver tal infantil criatura a se comunicar comigo, rapidamente agachei-me e pondo a câmara rente ao chão percorri, em marcha ré, imaginando concretamente cada frame que ia produzindo, captar esse quadro bastante interessante. Pois, para quem o vê, mais parece que o felino é mesmo uma fera, que tá bravo, em posição de ataque, protegendo o santuário esquecido por seu povo. Quanto ao gatinho nada pude fazer, estava no automóvel do Jornal, entre pautas, e não trazia qualquer alimento comigo, nem água, mas percebi que havia crianças distantes e um movimento constante de transeuntes que moram ou visitam a Favela do Papódromo. E quanto ao Papódromo, lamento. Acho que bem poderia ser um espaço para shows e eventos populares (eruditos ou artesanais), como apresentação de orquestras, missas, cultos, peças teatrais, exposições, oficinas, enfim, menos tudo aquilo que está lá: descaso e depredação; ladeado de miséria humana explícita.

LCB_03mar2008