sexta-feira, abril 02, 2010

Cabeça de Alguma Coisa


O espectro de um animal, perpassado e pendurado por um arame farpado, do que restou de mais uma árvore cortada. Uma máscara presa. Uma cerca infinita, rodeando e delineando, palmo a palmo cada pedaço desse chão. Pelo ver, há anos que a árvore e o arame farpado comungam, sob pressão, esse elo da madeira que cede com o metal que corta, feito o pingo da água que de gota em gota fura a pedra. Para tanto uma sinergia mística completa esse quadro ‘fantástico’, com a presença do fotógrafo que registra. Mística porque, em uma longa viagem, uma parada forçada para aliviar a vontade de urinar, levou este repórter fotográfico ao exato local. Alguns metros pra cá, alguns metros pra lá, não haveria certamente esse flagrante subjetivo, essa natureza morta, essa arte explícita que navega a percepção óptica do autor. Poesia ! Poesia ! Poesia !

LCB_2007nov10

Série Mergulho do Coqueiro


Trabalhei desde 1985 como ‘agente publicitário’, diga-se Poemídia, até que em 2002, de passagem por Maceió, uma amiga de Minas Gerais resolveu vender uma câmara Nikon F3 e algum equipamento, me oferecendo. Durante alguns meses refleti, estava cansado de fazer artes gráficas (autônomo). Tudo culminou com o lançamento de um novo jornal, o “Primeira Edição”, não deu outra: comprei o equipamento no início de 2003. A partir dali tudo mudou, houve um processo de transformações muito grandes em minha vida, agora numa versão poética imagética, mergulhei de cabeça no fotojornalismo, mudei diversos costumes, encontrei singularmente com minha profissão. No primeiro filme que coloquei na câmara, tive o prazer de encontrar em meu caminho essa prática esportiva da meninada do bairro do Pontal da Barra: O “Mergulho do Coqueiro”. Acho que foi aqui que eu percebi, que através das imagens poderia tocar minha’lma Poemídia, que a poética da linguagem da imagem sempre fora a essência desse projeto que não tem fim, que é a prática existencial que alimenta os anseios dos meus dons de poeta.

LCB_2003sd