Vou sempre bater nesse ponto: no foto-jornalismo não existe tempo para produção de cenário ou objeto, é tudo muito imediato, sempre temos outras pautas a cumprir, nem sempre temos a luz ideal, a organização dos objetos, dos ambientes, e tantas vezes o fato não se repetirá. Geralmente o que se move nesse universo é o próprio repórter-fotográfico, na busca da melhor composição. Raramente pedimos que o entrevistado vire-se para um lado ou movemos um objeto de cena, pois acredito que qualquer intervenção numa reflexão pode-se perfeitamente desconcentrar o raciocínio, por isso, quase sempre em silêncio, rodeamos os objetos e o ambiente, buscando o melhor enquadramento.
No caso dessas fotografias acima, o Cel. Dário César tinha sobre sua escrivaninha uma pequena lupa dentro de um porta-caneta. Em meu universo contemplativo, ao perceber que, através da lente da lupa, a imagem invertida do coronel se retratava. Lembrei dos princípios da fotografia, lembrei do buraco na parede da câmara escura, do prisma das cores de Isaac Newton, da radiação luminosa policromática dos raios do sol. Vi-me diante as cores e um novo canal de abstração; acocorado, procurei uma distância que pudesse colocar a imagem do coronel dentro desse pequeno portal. Com certeza desconcentrei um pouco a entrevista, pois quando ele percebeu meu movimento, não se conteve e fez alguns comentários sobre meu posicionamento, mas relaxou e continuou. A luz a princípio não estava ajudando, fiz uns rápidos ajustes no ISO de 400 para 1600, com ‘f’ sempre em 5.6 para deixar o fundo sem foco, para permitir maior velocidade do obturador, sem profundidade de campo, desfigurando o plano de fundo, para ressaltar a fulgura do Coronel exibida no diâmetro da lupa.
LCB_13jan2010