quarta-feira, novembro 24, 2010

Cracolândias pela cidade



Crack: Informar sem alarmar

JAIR QUEIROZ

http://www.oobservador.com/nacional/crack-informar-sem-alarmar.html

"Quando o crack chegou ao Brasil, em meados dos anos noventa, as primeiras cidades a sentirem o problema foram as capitais do nordeste, sudeste e sul. Depois foi a vez de Brasília, onde encontrou uma “área livre de consumo”, fato denunciado recentemente por matérias jornalísticas dando conta de que por lá o consumo da droga tomou a proporção de epidemia.

Até então olhávamos tudo isso com um misto de aflição e pena das vítimas, não só daqueles que se tornaram dependentes, mas dos cidadãos em geral, reféns dos índices de criminalidade que chegaram na carona da droga.

Infelizmente chegou a nossa vez. Embora ainda não haja números oficiais já é noticiado pela imprensa local, com base em observações oriundas do Departamento de Narcóticos da Polícia Civil, que a droga desembarcou de vez em Porto Velho e já vem provocando estragos. Conselheiros Tutelares afirmam que o envolvimento de menores no consumo cresce rapidamente, assim como a violência, inclusive na própria família, já que essas vítimas precoces se tornam arredios às regras de convivência familiar.

A chegada do crack colocou pais, professores e autoridades em alerta e precipitou a correria atrás de especialistas que possam esclarecer mais sobre os seus efeitos e conseqüências. Palestras em escolas, debates na televisão e matérias jornalísticas são usualmente os recursos mais utilizados para disseminar a consciência preventiva na sociedade.

Durante anos a preocupação maior nesse sentido em nosso Estado era com a “mela”, droga preparada a partir da pasta base de cocaína, com adição de várias substâncias tóxicas, tais como a soda cáustica, barrilha e solução de bateria. Poucos sabem, no entanto, que as duas drogas são co-irmãs, ainda que o crack tenha nascido nos EUA e a mela aqui mesmo na região e que possuem efeitos semelhantes, são altamente indutoras do vício e muito deletérias ao organismo. O princípio ativo de ambas é a cocaína que, por ser volatizada, isto é, transformada em gás pela ação da queima, tem efeitos diversos daqueles do cloridrato, ou “pó”, como é conhecido na linguagem leiga. A forma gasosa favorece a absorção de praticamente cem por cento do que é introduzido no corpo, absorção essa que se dá através das paredes intensamente vascularizadas dos pulmões. A ação no cérebro ocorre em dez ou quinze segundos, atinge o ápice em torno de vinte minutos e entra em declínio logo em seguida, também de forma abrupta. O curto espaço de tempo entre o início e o fim da ação é a grande armadilha pois o cérebro “não tem tempo” para se recompor, o que gera um desequilíbrio na produção de substâncias como a dopamina, neurotransmissor responsável pelas sensações de bem estar. A euforia intensa do início dos efeitos se transforma em disforia intensa, numa proporção inversa, produzindo sensações desagradáveis que os usuários chamam de “fissura”. A fissura é caracterizada por ansiedade exacerbada, impulsos agressivos, mal estar geral que podem incluir sudorese, boca seca, cólicas abdominais, além, é claro, da vontade irresistível de “fumar mais uma”.

Nessa fase o usuário, que rapidamente se transforma em dependente, pode valer-se de qualquer artifício para obter outra pedra, e assim sucessivamente, tendendo a parar apenas quando o corpo já não suporta mais a intoxicação. O conceito de overdose se aplica plenamente aos efeitos do crack (e também da mela), já que o que determina o momento de parar raramente é a sensação de saciedade, mas o colapso físico e mental, numa reação à superdosagem.

A situação é grave e requer rigor nas medidas de repressão e, sobretudo, nas medidas preventivas, visando conscientizar, inclusive no sentido de que se evitem os exageros e distorções nas informações. O grande alarido inicial, que se explica pelo medo da entrada em cena dessa droga, suscita uma série de informações alarmantes e distoricodas, como a que ouvi esses dias de que “com o crack as crianças estão agredindo suas mães e professoras” e ainda “que várias crianças já morreram intoxicadas”.

O crack é nocivo, mas a disseminação de boatos dessa natureza também produz seus estragos gerando medos e estereótipos que em nada contribuem para a compreensão realística do fenômeno.

Opiniões

* Luciana Laura Pereira Marciel - 26/05/2010
Muito boa a matéria continuem trazendo artigos sobre drogas, pois assim podem estar ajudando a contribuir para com a conscientização dos jovens do estado e do Brasil."

** Lula Castello Branco – 24/11/2010
Publico aqui esse artigo por reconhecer que há em suas entrelinhas um tom necessário para se tratar a questão das drogas e a sociedade civil. O senhor Jair Queiroz foi muito feliz quanto ao desenvolvimento do texto, claro, e existencialmente presenciado. Vê-se na linguagem propriedades de quem convive ou conviveu com o entorno, como se diz: “no olho do furacão”. Só acho que não há como ‘não alarmar’ diante o quadro em que estamos vivenciando, em um paralelo entre uma droga que causa dependência de extrema entrega e a falta de informação e ação quanto à realidade danosa da relação social. Estudos existem, nos papéis. Mas na política os interesses dos mercados determinam o modo em que o consumidor receberá sua droga. Os legais e os ilegais. O comércio e o tráfico. No fundo, são falhas do Kapitalismo.

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Afrodecendente


Fotos em movimento, flagrantes do cotidiano da cidade. Como o desta foto, captada em um automóvel em movimento, um instante descontraído, o imperceptível captado. É a questão da fotografia como quadro, como obra de arte, pois há em seu âmago a sensibilidade do ver poético. Um vulto antropológico em um tema racial. Arte e realidade, juntas, em uma nova arte, em um novo quadro, uma fotografia.  Não houve qualquer produção ou programação para esta fotografia; é questão de segundos: ver, perceber, preparar a câmara, posicioná-la e mirar, acompanhando o movimento do automóvel, que nem sequer reduziu, numa velocidade média de 50 ou 60 km/h, acertar o momento exato do quadro no instante do clique. É uma técnica que requer alguma prática, porque é necessário que se perceba o ponto de referência do foco, a câmara tem que girar, seguindo o movimento do automóvel, mantendo o ponto do foco fixo, a câmara gira em torno do objeto do foco, até o clique.

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