Dois flagrantes da ocasião. No mesmo instante. Um macaco de pelúcia afogado e uma pomba em pleno vôo. Num lapso de 50 segundos, dois olhares, no mesmo lugar. Em meio ao lixo arrastado pelas águas da chuva, via o leito do Riacho Reginaldo, náufrago devolvido pela maré no movimento das ondas do mar, ali estava exposto o macaquinho; me fez lembrar a criança que um dia recebera de presente com tamanha felicidade. Refleti sobre o apego às coisas e o descaso ao desapego. Dos valores dos bens quando sentimentos recreativos sobrepõem-se a realidade de sua produção e do destino, quase sempre o lixo, nessa cultura sintética da indústria que desmata, polui, abate, destrói... Desse lixo quântico, como um fractal infinito, encontrado em todo lugar da Terra. Na aura existencial desse macaquinho pulsam sentimentos ínfimos pelo amor de uma criança mais pura, mas também há sentimentos cruéis de um mercado corruptor que lucra a imbecilidade do enriquecimento, pelo glamour, pela luxúria, por causas inconsequentes e egocêntricas, vislumbrado no trânsito caótico das ruas a penumbra obscura do futuro incerto. Evolução em plena involução ao invés de revolução. O caminho errado da humanidade. Enquanto isso a pomba desloca-se num vôo solitário de inocência animal... - será que é isso, esse sentimento bicho, esse desabrochar do animal que habita nessa gente máquina, que a humanidade perdeu ?
LCB_2011ago03