Eis que me encontro num profundo
poço, sem expectativas claras, sem rotinas de trabalho, mergulhado na rotina da
família.
Sou um ser como qualquer outro
que sente, erra, sonha, pensa... Que nada mais que tantos sobreviventes. Um
sujeito em apuros permanentes, lutando pela evolução mais justa e saudável. Num
labirinto de relações, estigmatizado pelas idéias, pelas ações, pela política,
pela vontade de fazer... Sempre ativo, às margens desse universo corrupto desse
tipo de poder, desse mercado mercenário, dessa linguagem chula do cotidiano
televisivo, enfim, na contramão desse trânsito desumano (ou demasiadamente
humano), dessa evolução apocalíptica, do desmatamento e da poluição, da miséria
que constrange, da miséria da cultura de barriga vazia.
Quero dizer-me, justificar-me,
que sou pelo acaso; estou nesse mundo para viver o que ele está a me oferecer;
sou, como todos, obra da natureza; estou aqui, como todos e tudo estão; na vida
tudo acontece, como um dia, uma noite e outro dia, dias e dias, tudo
acontecendo. O previsível acontecendo, o imprevisível acontecendo, a realidade
acontecendo e o dia jaz em mais um pôr do Sol. Muitos vão dormir, enquanto
tantos acordam, num cotidiano de sonhos e ilusões, de momentos felizes e
infelizes, de uniões e separações...
Assim vejo o destino: O que tem
que acontecer acontece, o que deve nascer nasce, o que deve morrer morre. A
vida é um mundo de experiências palpáveis, - Estamos aqui para isso ! - em
busca de horizontes distintos; paralelos e congruentes ou discordantes; cada
ente com sua sina, seu fardo, seu passado e futuro.
Somos sobreviventes de uma
História milenar, tempo ínfimo no fluir do Universo, tempo em que os Humanos
descobriram a roda, o fogo, a comunicação. Tempo da evolução humana, até aqui,
enquanto escrevo. Desde que o Homem deixou de ser um ‘animal’ para ser o Homo
sapiens sapiens, o mundo do conhecimento, o domínio e a urbanização.
Mas o que pretendo aqui é
retratar o que sinto, percebo, se passa comigo, minha vida de ontem à hoje. As
influências, o casamento, os filhos, o amanhã. Que me Sinto no fundo do poço,
poço profundo, aqui a vida por várias vezes me trouxe - Por castigo ? -
provocando meus instintos, minha força de vontade, minhas aptidões, sentimentos
que pulsam e pairam; da ajuda que ajudo e sou ajudado; dos encontros e
desencontros, de anseios e esperança.
Minh’aura magnetiza a ação e a reação,
atrai e repele, ilumina e obscurece. Apesar da situação incômoda, não há
arrependimentos, pelo contrário, levo a vida como um amálgama de aprendizados e
experiências, de tudo um pouco; tento ser companheiro; concretizei centenas de
trabalhos em comunicação... Está aqui minha vontade,- meu amor por tudo que
faço, vivo e tenho. - confrontada com as exigências tiranas do capitalismo. Das
desigualdades do escravismo moderno; da temperança quase desesperada. Dos
estigmas que obscurecem realidades de luz. Entre a vida e a morte no ser ou não
ser e nos por quês...
O poeta, o filósofo, o jornalista, o fotógrafo, o artista, o mago, o serigrafista, o surfista, o capoeirista, o louco, o Porrinho, o Malloka, o Neném, o Lutello, o pixaim da vovó, o Lula,
o Lulinha, o Lulex Silva... Alguém que adora tudo que faz, mesmo, tantas vezes,
contra a vontade; já sobrevivi 50 anos, mais de 18 mil dias, mais de 430 mil
horas, mais de 26 milhões de minutos. De mim: a força que a vontade tem,
agraciada pela energia vital da magnitude divina.
*Escrito em 2004
LCB_2011ago21