sábado, novembro 24, 2012

Simpatia



Não sei como se chama. A conheço, inda menino, na porta do Cine São Luiz, na Rua do Comércio (Maceió/AL), entre outras pedintes, nos idos anos 70. Lembro que senti algum receio, medo, daquelas mulheres pedindo um troco, exatamente na hora do ‘caixa’, quando tirava do bolso a carteira, havia um corrimão de aço que nos separava; hoje risonha, quase sempre isolada, de passagem pelo Centro é sempre por mim cumprimentada. Simpatia.

Foto: Com um cabra chamado Max, dando uns toques de funcionamento da câmera, na esquina da Catedral, onde ela estava repousada. Usamos a câmera Nikon F-10 e lente Nikkor 50mm, 1:1.8; filme de ISO 200.

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sexta-feira, julho 13, 2012

Reflexão a partir do que parecia NADA


















Dois flagrantes da ocasião. No mesmo instante. Um macaco de pelúcia afogado e uma pomba em pleno vôo. Num lapso de 50 segundos, dois olhares, no mesmo lugar. Em meio ao lixo arrastado pelas águas da chuva, via o leito do Riacho Reginaldo, náufrago devolvido pela maré no movimento das ondas do mar, ali estava exposto o macaquinho; me fez lembrar a criança que um dia recebera de presente com tamanha felicidade. Refleti sobre o apego às coisas e o descaso ao desapego. Dos valores dos bens quando sentimentos recreativos sobrepõem-se a realidade de sua produção e do destino, quase sempre o lixo, nessa cultura sintética da indústria que desmata, polui, abate, destrói... Desse lixo quântico, como um fractal infinito, encontrado em todo lugar da Terra. Na aura existencial desse macaquinho pulsam sentimentos ínfimos pelo amor de uma criança mais pura, mas também há sentimentos cruéis de um mercado corruptor que lucra a imbecilidade do enriquecimento, pelo glamour, pela luxúria, por causas inconsequentes e egocêntricas, vislumbrado no trânsito caótico das ruas a penumbra obscura do futuro incerto. Evolução em plena involução ao invés de revolução. O caminho errado da humanidade. Enquanto isso a pomba desloca-se num vôo solitário de inocência animal... - será que é isso, esse sentimento bicho, esse desabrochar do animal que habita nessa gente máquina, que a humanidade perdeu ? 

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quinta-feira, junho 07, 2012

Solitude



Cumes de aflição abismal rodopiam o corpo inteiro, anestesiando a mente num movimento contínuo de nada absoluto. A compreensão de nada. Um todo relativo é esmagado por um nada irrefutável. Um labirinto de mesmas coisas e mesmas caras e mesmas atitudes e... A rotina dos lugares, suas características manifestas transbordam, despencando nos perâmbulos um total sentimento de estrangeirismo.

Há preocupação básica do futuro. Há erros por todos os lados, a civilização está voltada para a morte, caminhando para um abismo, e o sentimento da reação está anestesiado, da reação de se ter a consciência da relação do Universo ser você e um nada soberano planando... num baile mesológico, entre corredores, becos, estradas e alturas atmosféricas, no giro contínuo das galáxias cintilantes.

As notícias alertam para muitas das agressões fatais à Terra. A questão básica da água, do cuidado que a humanidade deve ter e não tem, do descaso à problemática, do poder imaginar um futuro desértico, sem possibilidades de procriação, numa guerra selvagem, após outra guerra covarde. Como refletira Einstein: "se houver a terceira guerra mundial a quarta será a pau e pedra".

Não venha me dizer que sou pessimista. Não, não sou. Apenas acho péssimo o caminho político que as tendências das influências humanas têm determinado. (2003jan22)

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terça-feira, junho 05, 2012

A roupa no parador



Essa cena remeteu imediatamente a um cântico de capoeira que conheço e que sempre canto. Acho muito engraçado quando a poética diz: "Seu guarda civil não quer / a roupa no parador". Pois por todo lugar que vou, aqui no nordeste, vejo roupas estendidas; mas que pelo raro fato de serem roupas íntimas, me chamaram a atenção.

Sereia
CÂNTICO DE CAPOEIRA


Sereia, sereia
Eu nunca vi tanta areia no mar
Sereia, sereia
Eu nunca vi tanta areia no mar
Sereia, sereia
Eu nunca vi tanta areia no mar


Eu vim aqui foi pra vadiar
Eu vim aqui foi pra vadiar
Oh vadeia, vadeia to vadiando
Eu vi a pomba na areia
Oh vadeia, vadeia to vadiando
Eu vi a pomba na areia


Seu guarda civil não quer
A roupa no parador
Seu guarda civil não quer
A roupa no parador
Meu Deus onde eu vou para
Para minhá roupa
Meu Deus onde eu vou para
Para minhá roupa


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terça-feira, maio 08, 2012

Sem Título*


Eis que me encontro num profundo poço, sem expectativas claras, sem rotinas de trabalho, mergulhado na rotina da família.

Sou um ser como qualquer outro que sente, erra, sonha, pensa... Que nada mais que tantos sobreviventes. Um sujeito em apuros permanentes, lutando pela evolução mais justa e saudável. Num labirinto de relações, estigmatizado pelas idéias, pelas ações, pela política, pela vontade de fazer... Sempre ativo, às margens desse universo corrupto desse tipo de poder, desse mercado mercenário, dessa linguagem chula do cotidiano televisivo, enfim, na contramão desse trânsito desumano (ou demasiadamente humano), dessa evolução apocalíptica, do desmatamento e da poluição, da miséria que constrange, da miséria da cultura de barriga vazia.

Quero dizer-me, justificar-me, que sou pelo acaso; estou nesse mundo para viver o que ele está a me oferecer; sou, como todos, obra da natureza; estou aqui, como todos e tudo estão; na vida tudo acontece, como um dia, uma noite e outro dia, dias e dias, tudo acontecendo. O previsível acontecendo, o imprevisível acontecendo, a realidade acontecendo e o dia jaz em mais um pôr do Sol. Muitos vão dormir, enquanto tantos acordam, num cotidiano de sonhos e ilusões, de momentos felizes e infelizes, de uniões e separações...

Assim vejo o destino: O que tem que acontecer acontece, o que deve nascer nasce, o que deve morrer morre. A vida é um mundo de experiências palpáveis, - Estamos aqui para isso ! - em busca de horizontes distintos; paralelos e congruentes ou discordantes; cada ente com sua sina, seu fardo, seu passado e futuro.

Somos sobreviventes de uma História milenar, tempo ínfimo no fluir do Universo, tempo em que os Humanos descobriram a roda, o fogo, a comunicação. Tempo da evolução humana, até aqui, enquanto escrevo. Desde que o Homem deixou de ser um ‘animal’ para ser o Homo sapiens sapiens, o mundo do conhecimento, o domínio e a urbanização.

Mas o que pretendo aqui é retratar o que sinto, percebo, se passa comigo, minha vida de ontem à hoje. As influências, o casamento, os filhos, o amanhã. Que me Sinto no fundo do poço, poço profundo, aqui a vida por várias vezes me trouxe - Por castigo ? - provocando meus instintos, minha força de vontade, minhas aptidões, sentimentos que pulsam e pairam; da ajuda que ajudo e sou ajudado; dos encontros e desencontros, de anseios e esperança.

Minh’aura magnetiza a ação e a reação, atrai e repele, ilumina e obscurece. Apesar da situação incômoda, não há arrependimentos, pelo contrário, levo a vida como um amálgama de aprendizados e experiências, de tudo um pouco; tento ser companheiro; concretizei centenas de trabalhos em comunicação... Está aqui minha vontade,- meu amor por tudo que faço, vivo e tenho. - confrontada com as exigências tiranas do capitalismo. Das desigualdades do escravismo moderno; da temperança quase desesperada. Dos estigmas que obscurecem realidades de luz. Entre a vida e a morte no ser ou não ser e nos por quês...

O poeta, o filósofo, o jornalista, o fotógrafo, o artista, o mago, o serigrafista, o surfista, o capoeirista, o louco, o Porrinho, o Malloka, o Neném, o Lutello, o pixaim da vovó, o Lula, o Lulinha, o Lulex Silva... Alguém que adora tudo que faz, mesmo, tantas vezes, contra a vontade; já sobrevivi 50 anos, mais de 18 mil dias, mais de 430 mil horas, mais de 26 milhões de minutos. De mim: a força que a vontade tem, agraciada pela energia vital da magnitude divina.

*Escrito em 2004

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quinta-feira, maio 03, 2012

A Ressurreição do Papa Figo


Estão querendo me crucificar, por tratarem-me como uma ameba. O pessoal do Sindicato, numa total prova de conivência instituída, sequer quer ouvir-me. Chegando entre tititis a me desqualificar com brincadeirinhas de que fumei uma ‘maconha estragada’ e inventei essa estória. Preconceito e ignorância. A presidente do Sindicato, com quem pude falar por telefone - que eu estava com um grande problema com o advogado indicado por eles. - Ela falou que haveria naquele dia uma reunião e que me procuraria depois para ouvir-me melhor. Mas acho que nessa reunião chegaram à conclusão de que eu era nada, não valia qualquer consideração. Até hoje não fui procurado pelo Sindicato. Como se nada por lá tivesse acontecido.

E aconteceu e eu não abro mão da dor que me cerca, não consigo esquecê-la. Detesto ser enganado, pior é ser sinicamente enganado. Há meses não durmo direito, o que afeta minhas relações mais íntimas, meus contatos exteriores, minha relação no meio profissional, enfim, estou sofrendo arduamente por um confronto covarde. Eles unidos por uma mentira, diante minha singela verdade que não querem sequer ouvir. Sinto-me isolado, numa ilha; sem amigos, sem companheiros, só minha amada família que assiste impávida minha queda diante meu caráter de lutador. Deus provê, Deus proverá !

Pouco me importo, nesse instante, por quanto deixei de ganhar ou quanto ganham os protagonistas desse golpe. Pois o que me dói é a moral. É esse sentimento de justiça que ocupa todo meu pensar, essa indignação incessante. A lembrança do advogado dizendo-me de que nada do que havia me dito disse: “Isso aí eu não falei, não, Lula, de jeito nenhum” (02.02.12). Mas ressaltou, me questionando em reflexão, que poderia ter acontecido em outro processo (30.11.11), o afirma então que o fez: “Não foi naquela outra rescisão ? daquela mulher...” (02.02.12); engraçado é que nesse outro processo (06.04.2011), com a mesma questão do FGTS em aberto, a atitude dele foi oposta, negou-se a assinar a homologação, obrigando a empresa a depositar imediatamente o meu FGTS.

Pois naquele dia (23.03.11) medonho, de peito aberto me induziu a assinar a rescisão, contra a minha vontade. Não fui apenas induzido, fui praticamente forçado, pela imposição do arrogante advogado que me cantava vantagens mil: disse que eles não eram nem loucos de não me pagar ! Mesmo contra meu conhecimento de que estava a mentir para mim, aos olhos e ouvidos de todos os presentes naquela sala; penso que, em suma verdade, são todos eles velhos conhecidos e eu um rés estranho; Mas ele então me falou (02.02.12): “- Ah, se fosse assim eles tinham lhe pago no mesmo mês. Tinham lhe pago nessa data”. - Pois é, então... “- Se fosse assim...”.

Por que, então, já que não assume sua postura no dia da homologação, que permitiu o que já sabia que aconteceria ? Sobre a minha decisão de não assinar a rescisão. Jogando sua toga sobre a mesa, dizendo-se o advogado ali. Até quando lhe indaguei sobre a ressalva que fizera (02.02.12), sem a minha rubrica, retrucou: “Eu não tou lhe representando aqui, homem. Eu não, o Sindicato !”. Ele não tem uma procuração minha, para me representar. E se me representou, ou se o Sindicato através dele me representou, confesso que fui muito mal representado. Essa ressalva sem minha rubrica não tem qualquer valor jurídico, eu não compartilhei do que se escreveu ali. Inclusive, rasurou a própria rescisão, onde sou uma parte, com algo que não participei e que o que ali comunga fazia parte no contexto geral do processo.

Dizendo-se ser o que conhecia as leis e que eu assinasse a rescisão, que garantiria que se não a pagassem dentro do prazo legal a multa seria de, além dos trâmites do FGTS, um salário (piso) a cada mês, corrigidos (23.03.11). Ao invés de acolher minha posição de não assinar a rescisão, repito. Minha vontade ali era de já irmos direto pra Justiça, para que tudo fosse acertado rapidamente. Ele insistentemente persistiu que eu assinasse a rescisão, e eu, forçadamente, lhe disse que assinaria, apenas confiante nessa garantia que me dera, tão expressivamente. Quando exprimi meus sentimentos, lhe falando que estava me sentindo um ‘tolo’ (02.02.12) ele me falou: “Você foi um tolo. Eu não digo que um tolo porque você entendeu que era em cada mês ia ter uma indenização referente... Aí, aí, um negócio desse o caba não precisava fazer mais nada da vida...”. Não era esse o negócio que eu quis; isso foi ele quem me propôs.

“A legislação brasileira trabalhista, de trabalhista não existe...”, Disse (02.02.11). Não acho que fui o único a cair nesse conto do vigário, somos muitos que penamos para receber o obrigatório FGTS; escutei muitas vezes pelos corredores das redações os companheiros jornalistas que mal orientados assinaram a rescisão sem que sequer um centavo estivesse depositado em seu FGTS. No meu caso eu não quis assinar, pois já sabia do esquema, mas o advogado insistiu tanto, foi tão taxativo e firme, que me induziu a assinar (23.03.11).

Maceió, 03 de maio de 2012


Vejam outras publicações sobre este caso:

http://lulacastellobranco.blogspot.com.br/2012/03/indignacao-incessante.html
http://lulacastellobranco.blogspot.com.br/2012/02/um-homem-roubado-nunca-se-engana.html
http://lulacastellobranco.blogspot.com.br/2011/11/desinspirado.html

quarta-feira, março 14, 2012

Do silêncio que aguarda



"Aqui estão os loucos. Os desajustados. Os rebeldes. Os criadores de caso. Os pinos redondos nos buracos quadrados. Aqueles que vêem as coisas de forma diferente. Eles não curtem regras. E não respeitam o status quo. Você pode citá-los, discordar deles, glorificá-los ou caluniá-los. Mas a única coisa que você não pode fazer é ignorá-los. Porque eles mudam as coisas. Empurram a raça humana para frente. E, enquanto alguns os vêem como loucos, nós os vemos como geniais. Porque as pessoas loucas o bastante para acreditar que podem mudar o mundo, são as que o mudam." Jack Kerouac


SD_FotoRicardoLedo

terça-feira, março 06, 2012

Indignação Incessante



Desculpe-me, seguidores e amigos, se, por esse longo tempo, venho publicando temas por demais pessoais. São coisas e acontecimentos que estão gravados em meu destino. Não consigo não ser Eu. Não consigo não me indignar. Não consigo dormir. Até respirar fica difícil. Quando me deparo com situações que fogem à verdade. Situações que humilham, maltratam e surrupiam. Chego a pensar que certas coisas só acontecem comigo, mas ao mesmo tempo reflito e penso que acontecem com muitos, porém estes não se indignam. Não protestam. Não denunciam.

Já são 00h32 do dia 06 de março, e uma sensação chata incomoda a região do meu estômago, o embrulhando. É a angústia envolta a pensamentos que atordoam. Indignada com o Advogado do Sindicato da minha categoria; com um sindicalista que presenciou o fato e foi ríspido comigo, defendendo a ação de má fé deste representante nos trâmites jurídicos dos profissionais afiliados; e chateado com o próprio sindicato, na pessoa do presidente, com quem há uma semana contei o caso por telefone, falou-me que teria uma reunião naquela noite e que no dia seguinte me ligaria. Até hoje.

O que estou a sentir me dói na alma. A imagem daquela sala, das cinco pessoas que estavam presentes. Lembro de detalhes de cada um. De quase toda conversação. Mas um pequeno trecho é o que mais me incomoda: lembrar do Advogado mentindo para mim, eu o disse que o que ele dizia não era verdade, questionei o Supervisor RH da empresa sobre o que o Advogado me afirmara; este deu com os ombros, negando, e disse: - “sei disso não que ele tá falando.” - Foi quando o Advogado me intimou: - “quem é o advogado aqui ?! Quem é que lhe representa aqui ?! Sou eu ou ele ?!” - Estava claro que o Advogado era o intermediador da negociação, representando meu Sindicato. Mesmo sabendo que o Advogado estava mentindo. Sinicamente. - Brincando comigo ?! - Induzindo-me a assinar o documento sem que minha consciência acreditasse em uma só palavra que dizia o Advogado.

Sobre o pedestal da Justiça este advogado, um ano depois, me olha no olho e diz que nada daquilo que me disse houvera dito. O dito pelo não dito. Entre mim e ele há um mentiroso. Outras três pessoas estavam na sala. Um dos dois sindicalistas presentes já se posicionou a favor, integral e moralmente, do Advogado. O outro sindicalista e o Supervisor Rh nada me disseram, tenho medo do que me digam, pois será horrível então, para mim, sofrer pelos quatro. Lamento que isso tenha acontecido comigo. Lamento por mim, também, porque a sensação que sinto, de indignação, de asco, de solidão, angústia, é toda plena sofrimento. Afeta minha consciência e se depara com minha moral. Chegando aqui, atinge minha família, meu âmago, minha luz.

Mas uma madrugada sonâmbula, de insônia tensa. Indignação pulsante. Reverberação das lembranças de momentos desse caso que me aconteceu, uma viagem dos pensamentos entre a consciência e a memória. Enquanto minha esposa e meus filhos dormem, seus sonos tranqüilos, tento aliviar a dor dessa traição mentirosa a que fui acometido, em que se pôs em cheque minha estimada honra. Penso nos meus companheiros de trabalho, dentro de todo esse processo a que estou vivenciando, e são neles que busco a energia latente de cada palavra dessas que aqui descrevo, pois muitos podem se encontrar na mesma situação que me encontro agora. 

Estou muito triste. Vou tentar dormir.



Vejam outras publicações sobre este caso:

http://lulacastellobranco.blogspot.com/2011/11/desinspirado.html
http://lulacastellobranco.blogspot.com/2012/02/um-homem-roubado-nunca-se-engana.html


Foto de Fernando Araújo (Chebinha)_1986_Emissário Submarino

segunda-feira, fevereiro 27, 2012

outros foram / e os passos / foram outros


“Desde criança nunca fui como outros foram
Nem meus olhos nunca viram
o que outros viram.
Já que minhas paixões não têm
a mesma origem,
Não vêm da mesma fonte
as dores que me afligem”...
 (E. A. Poe – Folhetim – 28/07/85)

sábado, fevereiro 18, 2012

Um Homem Roubado Nunca Se Engana


Situações embaraçosas são cotidianas entre as relações humanas. Vai e vem encontro-me diante fatos corriqueiros onde os espertalhões estão a movimentar seus palitinhos para de algum modo nos ganhar alguma coisa. Desta vez me veio de onde menos esperava, no lastro do sindicato ao qual sou cadastrado como Jornalista Profissional. Especificamente do advogado, que deveria proteger os interesses dos trabalhadores da categoria, quando em uma negociação, no dia 23 de março de 2011, com o Supervisor de Recursos Humanos da Empresa ; na sala estavam mais dois integrantes do sindicato.

Pois bem, o Supervisor RH nos apresentou o Termo de Rescisão de Contrato, com uma cópia para cada parte e uma para o sindicato. Quando questionado pelo pagamento, argumentou que tinha apenas um cheque referente à Rescisão, sem a parte referente ao Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e multas, argumentando que pagaria no dia 06 de abril de 2011. Nesse instante meu posicionamento foi absolutamente contra o recebimento do cheque apresentado, pois eu sabia que, se acaso o recebesse, a empresa não depositaria tão cedo meus merecidos créditos do FGTS. 

Porém o Sr Advogado interveio na negociação, totalmente convencido e convincente, indagando-me que seria melhor eu pegar o cheque e que se ‘eles’ não pagassem como previsto, seriam obrigados a pagar a cada mês de acordo não cumprido, além do FGTS com os dividendos, mais um salário (o piso da categoria) corrigido também mensalmente. O retruquei, pois sabia que isso não era verdade, que se eu recebesse aquele cheque estaria sanada a negociação da Rescisão, e o que restara seria apenas o FGTS e dividendos inerentes. E o Sr Advogado assegurou-me que não, “eles não são nem loucos de não pagar”, quase esbravejou, e repetiu a mesma conversa, falando que pagariam a cada mês de atraso, além dos trâmites do FGTS, um Piso corrigido mensalmente; retruquei novamente e este manteve seu argumento. Convencendo-me a aceitar o cheque e assinar o documento. Após eu ter assinado, vi que toda negociação teria sido anotada nas costa de uma página, era a ressalva que o advogado escreveu e que foi rubricada por nós três.

Chegou o dia 06 de abril de 2011, liguei para o Sr. Supervisor RH e como resposta obtive um argumento de que a Empresa estava com um probleminha e que só no ‘próximo mês’, com certeza, me pagariam. Liguei para o Sr. Advogado que me aconselhou aguardar a negociação. Nessa maré mansa de uma justiça sem forças imediatas, diante empresas que brincam com os merecimentos dos trabalhadores, que são forçados a buscar recursos especiais nessa própria justiça, - Isto é, o que é obrigatório torna-se uma chacota ! - chegamos a um ano na mesma conversa, nada fora depositado. 

Praticamente todos os meses eu liguei para o Sr. Supervisor RH e obtive sempre uma nova desculpa, “mudou a direção”, “Seu processo está na lista das prioridades”. Foi quando procurei novamente o Sr. Advogado, no Sindicato, no dia 02 de fevereiro de 2012. Cheguei um pouco mais cedo e antes da chegada do advogado, encontrei um dos sindicalista, que estava na sala o tempo inteiro da negociação, que quando indagado por mim sobre o conversado naquela sala, esbravejando negou tudo, falou-me que o advogado nada daquilo havia me dito, e sem mais conversa dirigiu-se para o recinto. 

Não deu outra. Com a chegada do advogado, em um tom com aspecto de ‘zombaria’ me indagou: - “Tá querendo ficar rico com esse processo, Castello Branco !”. - E a decepção confirmou-se. Negando ter dito o que disse no dia 23/03/11. Pior: a ressalva que havíamos, os três, rubricado estava em outra página, abaixo da Formalização da Rescisão, e rubricada apenas pelos dois (Sr. Advogado e Sr. Supervisor de RH), não havia a minha rubrica. Então percebi que havia uma armação contra a minha pessoa, que se acaso mantivesse a minha verdade, já que eles estão unidos ao que para mim é uma grande mentira, e eles são pelo menos dois (até então não falei nem com o outro sindicalista nem com o Sr. Supervisor de RH sobre o conversado naquela sala no dia 23/03/11). 

Mesmo que compactuem, ou não, com a mentira armada contra mim, o que leva aos outros todos do mundo a crer que as duas verdades são mais fortes que a verdade de minha pessoa. Então, nessa estória eu seria o mentiroso e mentiroso, por negar o que disse para mim, é o Sr. Advogado, que me ludibriou, me iludiu, e hoje quer que eu seja um idiota, que fique calado e admita, - não sei porque !? – essa mentira deslavada sobre minha honra. Nada posso falar quanto sobre o sindicalista, pois nada ele assinou, mas estava presente, porém, quanto a sua atitude brusca e sua fuga da verdade (02/02/12), levou-me a crer que há um envolvimento entre eles.

No mês de janeiro terminei um contrato com outra Empresa, a através da qual prestei serviços durante um ano para a Eletrobras Distribuição Alagoas. E com a papelada pronta pra dar entrada no meu Fundo de Garantia, o ‘caixa’ da Caixa Econômica Federal me falou que o documento deveria ser homologado ou no Sindicato da categoria ou no Tribunal do Trabalho. Procurei o sindicato, na pessoa deste mesmo Advogado. Ao lhe apresentar a papelada que havia recebido da empresa ele logo me perguntou: “Você já recebeu todo esse dinheiro que tá aqui ?”. Falei que não, que o pessoal havia me prometido pagar o resto no próximo mês. Então ele recusou-se a assinar a homologação do documento, falou que só homologaria quando eu apresentasse o comprovante de depósito de tudo que eu tinha direito. Forçando a Empresa a antecipar e quitar o documento. 

Foi essa questão que me fez pensar: porque ele não agiu assim com esta outra Empresa ?! Porque ele não agiu profissionalmente assim. Pelo contrário, quando reunidos com o Sr. Supervisor de RH contou vantagens convincentes, aconselhando-me a assinar o documento. - Que horrível ! - Estou mal. Péssima sensação de ter sido enganado. Com cara de otário. - Possam achar ! - Mas tenho o costume de confiar nas pessoas, lamento, é da minha índole.

Pois aqui estou, sem saber com quem possa contar, já que o Sindicato, representado nas pessoas do Advogado e do Sindicalista, fez sentir-me ‘um patinho fora da lagoa’. Culpa da minha insensibilidade de acreditar nas pessoas, como acreditei nas palavras deste advogado aqui citado, como também na palavra da empresa que não quer pagar o que tenho por direito. Escrevi esse breve relatório do ocorrido na intenção de alertar outros companheiros jornalistas a serem mais espertos quanto à credibilidade nas palavras e nas ações jurídicas com a representação deste Sindicato, na pessoa deste advogado.

Não sei se o Advogado ganhou alguma coisa por isso, pois para mim ele só perdeu. O sentimento de injúria, a sensação de vazio, o estado aturdido da mente enganada; como disse nosso poeta ‘caranguejo’ (Chico Science): “Da lama ao caos / do caos à lama / um homem roubado nunca se engana”.

Maceió, 16 de fevereiro de 2012.

Lula Castello Branco

terça-feira, fevereiro 07, 2012

Nas trilhas do canavial


Os canaviais da Zona da Mata alagoana são tapetões gigantescos, quilômetros e mais quilômetros de plantio.  É uma faixa que corta o Estado de Alagoas de norte a sul, com pelo menos 80 a 100 quilômetros de extensão leste a oeste. Nesse perímetro o que resta da Mata Atlântica original não chega a 5%. Viajar pelas estradas alagoanas é conviver por horas contínuas com o canavial que parece não ter fim. Numa dessas viagens pude captar, dentro do automóvel em movimento, esse momento tão singelo. Um trabalhador da cana-de-açúcar, entre os canaviais, retornando para casa.

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quinta-feira, janeiro 05, 2012

O silêncio de mil e uma palavras


Há um trabalho silencioso que ronda a realidade para desvendar minúcias, um trabalho tantas vezes árduo, cansativo, que consiste em capturar da aura do perceptível a poética da expressão pura, compondo quadros mágicos que refletem os sentidos e sentimentos do fato consumado. Embora nem sempre correspondido ou compreendido, quase sempre incógnito, tal profissional não arreda o pé, deslocando-se em busca do melhor posicionamento, cumpre sua sina e assim evoluímos nessa Era das Imagens. Quer seja em uma delegacia de polícia, em uma assembléia legislativa, em uma favela, em um evento cultural, ou onde haja informação, lá estão, prontos para, através do conhecimento e da criatividade, decifrar os enigmas da sociedade, realizando em um clique o silêncio de mil e uma palavras.

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